Entrevista com André Lima Cardoso, sócio da Infobase e professor da FGV
Diário dos Fundos de Pensão: Por favor, resumidamente qual o quadro geral da utilização da TI pelos fundos de pensão hoje ?
André Lima Cardoso: Fundos de pensão são instituições de viés conservador. Vale dizer que é natural e, até saudável, que seja assim. Isso norteia a relação dessas instituições com tudo e, obviamente, também com a TI. Dito isso, fica fácil imaginar o cenário padrão: uma visão da tecnologia como centro de custos, sistemas transacionais, modelo padrão de licenciamento, pouca utilização de computação em nuvem, raríssimos casos de utilização de business analytics ou soluções de mobilidade, sites simples e, no geral, pouco valor agregado. Claro que há exceções, mas esse cenário é visto com bastante frequência, muito mais por falta de suporte aos Gerentes de Tecnologia do que por convicções deles. Como pesquisador do tema e professor da Fundação Getúlio Vargas, tive a oportunidade de visitar e ter acesso à informações de instituições similares em outros países. A situação em países desenvolvidos é um pouco melhor mas nossa realidade não é tão diferente em países com condições socio-econômicas similares.
Diário : Relações positivas e transparentes com os participantes são algo cada vez mais fundamental para as entidades. As tecnologias mais facilmente utilizáveis já estão sendo a seu ver bem utilizadas pelos fundos de pensão hoje ?
André: Fizemos uma pesquisa em 2014 e concluímos que a relação entre o participante e seu fundo de pensão é pautada em três grandes pilares: confiança, experiência e adequação. A tecnologia pode ajudar nos três pontos. É uma ferramenta importante na divulgação dos resultados, investimentos e iniciativas, que se reverte em transparência e, consequentemente, em confiança. Ajuda a proporcionar uma experiência melhor na utilização dos serviços, pois o fundo passa a estar sempre à mão e seus serviços disponíveis o tempo inteiro e, por fim, contribui para gerar produtos mais adequados, pois permitem que os desejos participantes sejam identificados de forma mais rápida e eficiente, além de diminuir o tempo de colocar produtos novos no mercado.
Diário: Há formas menos onerosas de se obter vantagens competitivas em TI ?
André: Só é caro o que não traz retorno. A abordagem de utilizar soluções de tecnologia apenas para "fazer a roda girar", tão comum num mercado conservador como o dos fundos pensão, ajudam nessa percepção de que investir em TI é caro. Se você faz um investimento e ele traz um resultado financeiro positivo, a percepção sobre o montante gasto, inevitavelmente muda. O que é fundamental para as organizações, nesse caso, é que exista um alinhamento claro entre os departamentos de tecnologia, conselhos, diretores e superintendentes. Tecnologia é uma ferramenta poderosa para redução de custos e essa avaliação costuma ser negligenciada. Outro ponto é capacidade de coletar, interpretar e analisar dados. Já conversei com algumas dezenas de fundos de pensão e vi muito poucos lançarem mão desse instrumento para entender seus participantes e oferecerem soluções mais assertivas. Cabe aos responsáveis por esses departamentos se aproximarem da gestão dos fundos de pensão para que consigam, efetivamente, contribuir de forma estratégica.
Diário: Qual a distância que os fundos de pensão se encontram hoje do uso dos dispositivos móveis?
André: Existe um longo caminho a ser percorrido. Temos algumas iniciativas tímidas. Estamos vendo, nesse momento, alguns fornecedores de softwares de gestão oferecendo esse tipo de solução, mas como são empresas com outro foco, o resultado final é bem aquém do que poderia ser. Temos muito pouca coisa realmente boa escrita. Fizemos uma pesquisa e encontramos pouquíssimos apps, além de um percentual baixo, menos do que 30% dos sites preparados para esses dispositivos. Ao mesmo tempo, vemos que uso o do celular para transações bancárias chegou em quase a metade dos consumidores e nos últimos seis anos, o número de idosos que usam a internet aumentou mais de 200%. Certamente muitas oportunidades de melhoria de imagem, redução dos custos de atendimento, empréstimos e aumento do percentual de distribuição estão sendo perdidas.
Fonte: Diário dos Fundos de Pensão, em 26.10.2015.