Para John Falcetano, CEO da Health Care Compliance Association (Hcca), o associativismo tem ajudado hospitais, indústria e médicos americanos a fazer das práticas de compliance uma realidade que vai além do simples discurso
Revista Diagnóstico – Qual a importância do associativismo para a difusão de uma cultura de compliance no mercado de saúde dos EUA?
John Falcetano – A indústria de saúde nos EUA é fortemente regulada. Por isso, é muito importante que os profissionais de compliance se mantenham atualizados sobre mudanças regulatórias. Há incentivos claros, por parte do governo, para que as organizações promovam programas efetivos de compliance. A experiência do Hcca se concentra em oferecer programas educacionais e networking focados em cases de sucesso do mercado de saúde. Atuamos também com uma organização irmã, a Society of Corporate Compliance and Ethics (Scce), com uma abrangência mais ampla, incluindo indústrias generalistas. A Scce tem um número menor de membros, mas está crescendo 20% ao ano. Temos, inclusive, oferecido todos os anos as conferências Basic Compliance e o Ethics Academies no Brasil.
Diagnóstico – O Hcca vem conseguindo cumprir a sua missão?
Falcetano – Acredito que sim. Mas sempre haverá pessoas que dirão: “Não precisamos de programas de compliance. Somos uma boa companhia e nossas pessoas não violam a lei”. Infelizmente, basta ler as manchetes para se constatar que algumas organizações têm enfrentado processos criminais por práticas em desacordo com a lei.
Diagnóstico – Como montar uma entidade como Hcca a partir do zero em países como o Brasil?
Falcetano – Diria que os maiores desafios são a falta de consciência dos profissionais do setor sobre a importância do associativismo e a baixa percepção da relevância de programas de compliance. Se o governo não der grandes incentivos para o compliance, muitos poderão acreditar que os custos para a implementação de um programa desse tipo é muito grande. Nos EUA, as multas são pesadas. É muito claro que os custos do não-compliance são mais altos do que os de compliance. Ao observar a ética e o compliance nas organizações de saúde americanas, nota-se que a conduta moral está conseguindo convencer os empregados a fazer a coisa certa porque é o certo. Cabe ao compliance, como método, promover as regras e recomendações para que essas diretrizes sejam seguidas. E, claro, o Brasil pode e deve investir nesses ensinamentos.
Diagnóstico – O que leva um profissional de compliance a se associar a Hcca?
Falcetano – Somos uma organização de adesão individual. Isso significa que cobramos os membros individualmente e não pela organização. A entidade é mantida principalmente pelo pagamento de anuidade e dos cursos. Existe um conselho de administração que fornece supervisão e direção para CEOs. Os executivos têm uma equipe de profissionais para ajudar a realizar a missão da organização. As pessoas se tornam membros do Hcca, fundamentalmente, porque estão ansiosas para saber o que irão torná-las mais eficientes em seu trabalho.
Diagnóstico – Como funcionam os treinamentos oferecidos pela Hcca na área de compliance? Qual o principal objetivo destes encontros?
Falcetano – O principal objetivo do nosso programa é apoiar os profissionais a aprenderem quais as melhores e mais recentes práticas e ajudá-los a construir sua própria rede. Em conferências como nosso meeting anual, The Compliance Institute, o aprendizado vem de casos apresentados pelos seus próprios pares. Os profissionais de compliance aprendem uns com os outros através do networking e permanecem conectados ao longo do tempo trocando informações sobre a questão do compliance. O Hcca também promove o Basic Compliance Academies, que oferece educação em compliance. Em três dias e meio, os participantes aprendem os fundamentos de gerenciamento de compliance com os líderes da área.
Diagnóstico – Qual o perfil dos associados?
Falcetano – O Hcca não mantém estas estatísticas, mas a vasta maioria dos nossos mais de 9,5 mil membros é formada por médicos, hospitais, ambulatórios e empresas de home care.
Fonte: Entrevista publicada na revista Diagnóstico n° 29, de JAN/FEV de 2015.