Por Bruna Chieco

A Comissão Técnica Leste de Estratégias e Criação de Valor da Abrapp realizou, nesta quarta-feira (03/12), o TalkPrev “Conversas que valem ouro: como falar de dinheiro e previdência com os filhos”, transmitido pelo canal da Abrapp no YouTube. O encontro reuniu especialistas para compartilhar orientações sobre como desenvolver educação financeira com crianças e adolescentes.
Participaram como palestrantes Cristiano Verardo, Diretor da Vexty, especialista da UniAbrapp, porta-voz do “Previdência é Coisa de Jovem” e autor do livro Previdência é Coisa de Família; e Clariana Barcelos, fundadora do projeto Poderoso Cofrinho, referência nacional em educação financeira infantil e autora de livros para crianças.
A abertura foi conduzida por Eduardo Lamers, Superintendente Geral da Abrapp, que destacou a relevância social do tema. “Tratar de educação financeira, para nós, é algo muito importante e que pode, de fato, transformar vidas. Para a Abrapp, também tem um valor enorme trabalhar para quebrar o tabu em torno do dinheiro. Precisamos trazer o tema para o dia a dia, mostrando que educação financeira pode estar presente na rotina”, afirmou.
Lamers lembrou que disseminar a educação financeira contribui não apenas para que famílias planejem o futuro com mais segurança, mas também para o fortalecimento da previdência complementar e, consequentemente, para a estabilidade do país.
“A educação financeira transforma vidas, não tenho nenhuma dúvida disso. E a Abrapp assume esse compromisso como parte de seu planejamento estratégico, que prevê inovar em educação financeira e previdenciária, seja por meio de iniciativas como esse evento, seja por apoio a políticas públicas e projetos de lei”, disse.
Ele citou como exemplo o apoio da Abrapp à inclusão da educação financeira e previdenciária nos currículos escolares e ao projeto Poupadores do Futuro, conduzido pelo Ministério da Previdência Social (MPS). “De mãos dadas com o MPS, conseguimos levar educação financeira para diversas crianças e adolescentes este ano”, destacou.
Além dessas iniciativas, o próprio TalkPrev é mais uma ação da Abrapp que, por meio de sua Comissão Técnica Leste de Estratégias e Criação de Valor, visa ampliar as conversas sobre educação financeira e previdenciária e aproximar mais pessoas deste tema, conforme relatou a coordenadora da CT, Thaís Versiani. “A gente entende que educação financeira e previdenciária começa dentro de casa, e quanto mais cedo as crianças e adolescentes entenderem este tema, mais preparados estarão para o futuro”, disse.
Educação infantil – Para que a cultura previdenciária se consolide, é necessário formar hábitos desde a infância do que tentar reeducar adultos. É o que destacou Clariana Barcelos, enfatizando que educação financeira não é matemática, mas sim hábitos, comportamentos e cultura. “Se a gente está falando em transformar uma cultura, em incentivar uma mentalidade poupadora, investidora, previdenciária, a gente tá falando de começar a partir da nova geração. Porque se não for pela educação, não será por outra via”, pontuou.
A fundadora do Poderoso Cofrinho ressaltou que educação financeira começa antes do dinheiro, sendo necessário romper com o tabu cultural brasileiro em torno do tema. Segundo ela, a primeira infância, especialmente até os seis anos, é a fase mais importante para formar valores e hábitos que definirão como a criança lidará com dinheiro no futuro.
Ela enfatizou que prevenir endividamento começa na infância, mas não através de sermões sobre dívidas futuras, e sim desenvolvendo habilidades como saber esperar, praticar gratificação adiada e aprender a poupar. “A criança vai aprendendo dia a dia, no cotidiano, vai parar de pedir pra comprar tudo que vê no shopping. Vai saber esperar e ser paciente”, explicou.
Clariana continuou explicando que a educação previdenciária compartilha a mesma base: entender o valor do tempo, adiar gratificações, criar disciplina e constância, e cuidar hoje para viver melhor amanhã. “É uma cultura de longo prazo. E essa cultura não é incentivada. Então, a gente está sempre nadando contra a corrente”, disse.
Segundo a especialista, uma educação efetiva deve passar pelo cotidiano e pelas experiências vividas, criticando abordagens meramente expositivas ou problemas matemáticos descontextualizados. A palestrante apresentou os quatro pilares da educação financeira infantil – ganhar, poupar, gastar e doar – nessa ordem específica, que forma a base da inteligência financeira e do conceito previdenciário de primeiro reservar uma parte do que se ganha para depois gastar.
Construção de hábitos – Em sua apresentação, Cristiano Verardo trouxe uma reflexão sobre a abordagem com o público jovem. “Talvez você espere que eu fale daquele futuro longínquo. Mas eu não acredito que isso funcione com crianças e adolescentes. No programa Previdência é Coisa de Jovem, não tratamos da previdência de décadas à frente, e sim do fortalecimento de fundamentos. Começamos pela base”, afirmou.
Para ele, falar de dinheiro com crianças é, antes de tudo, falar de construção de hábitos. Esse processo parte do entendimento dos papéis dentro da família. “Pais e responsáveis precisam assumir o papel de comandantes. Existe uma premissa básica: quem educa conhece mais sobre o passado, o presente e o futuro. É quem dá direção, quem diz o que é bom e o que não é”.
Cristiano reforçou que o primeiro passo é desenvolver comportamentos, ajustando a linguagem à maturidade de cada criança. “Esse é o meu papel como pai: dar disciplina, orientação, rotina e previsibilidade. Nossos filhos hoje são esperança. Eles ainda estão se formando, e até que se tornem adultos, o comando é nosso”.
Segundo ele, educar exige intenção e preparo, e as crianças são altamente influenciáveis; por isso, os adultos precisam atuar como filtro. “Elas precisam da nossa ajuda. Enquanto puxamos para um lado, há uma multidão de conteúdos puxando para outro. E aí eu me pergunto: qual é o peso da minha voz e do meu exemplo? Não podemos perder esse lugar de autoridade afetiva”.
Outro ponto central é compreender o poder do comportamento. O palestrante ressaltou que as crianças não fazem o que os adultos falam, elas imitam o que eles fazem. Portanto, antes de cuidar da educação dos filhos é preciso olhar para suas próprias ações, apontou.
Cristiano também destacou a importância de aprender e lembrou que a conversa sobre dinheiro precisa ser contínua. “Se você assiste algo, mas não absorve, não registra nada, perdeu tempo. Como você vai influenciar seus filhos sem comprometimento? Vamos falar sobre previdência e finanças com nossos filhos com frequência; temos que conversar e ensinar isso”, completou.
Fonte: Abrapp em Foco, em 04.12.2025.