Por Bruna Chieco

O cenário atual de juros ainda altos direciona os investimentos para títulos públicos, mas isso tende a mudar, o que leva as Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC) a buscarem novas alternativas de investimentos – e o agronegócio brasileiro é um dos ativos mais promissores no longo prazo. O tema foi debatido no painel “Cenários e Oportunidades para o Agro como Investimento de Longo Prazo”, realizado durante o seminário Fiagros como Estratégia de Diversificação para as EFPC, realizado nesta quinta-feira, 2 de outubro, em São Paulo.
Tanto pela tendência estrutural da demanda global, quanto pela necessidade de investimentos estratégicos em infraestrutura e inovação, o agro brasileiro vem se posicionando como um setor que apresenta vantagens competitivas, podendo ser acessado por meio de instrumentos financeiros capazes de transformar essa promessa em realidade para investidores.
Um desses instrumentos são os Fiagros, conforme reforçou o moderador do painel e Diretor Executivo do ICSS, Cléber Nicolav, ressaltando o papel estratégico destes fundos e a atenção crescente dos reguladores e participantes à pauta de sustentabilidade. “É um ativo que a gente precisa olhar com lupa, começar a adentrar nesse novo mundo”, disse.
Ele defendeu que as EFPCs precisam adotar uma visão estratégica de longo prazo, e o investimento em agronegócio é uma oportunidade. “Se a gente não tiver uma alocação estratégica de longo prazo, a gente pode perder retornos relevantes para os nossos participantes”, pontuou.
Rogério Boueri, Economista e ex-Secretário do Ministério da Fazenda, ofereceu a tese de investimento no agro, fundamentada em dados globais e vantagens competitivas do Brasil. Segundo ele, a demanda por alimentos e bioenergia vai crescer de forma contínua até meados do século, sustentada pelo aumento da população e do poder de compra.
O palestrante lembrou a importância do agronegócio para a economia brasileira. “A balança comercial depende do agro”, disse, apresentando dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) que mostra que o PIB do setor pode representar quase 30% do PIB do Brasil em 2025.
Ele reforçou que o agro é e continuará sendo um motor de geração de divisas e crescimento do PIB, além de uma oportunidade sólida para investidores de longo prazo, que ainda têm grande potencial de participação neste mercado. Segundo o Boletim CVM de Agronegócio, a fatia do mercado de capitais correspondente ao setor saiu de uma representação de 3,10% do total em março de 2023 para 3,35% em março de 2025.
Boueri enfatizou o papel do financiamento privado neste movimento. “O setor público não tem mais como bancar esse processo. O financiamento do agro tem que vir porque é um bom negócio”, pontuou. “A pergunta é: quem quer ser sócio disso?”, provocou.
Caminhos para o investimento – Trazendo a perspectiva do mercado de capitais e das operações financeiras, Moacir Teixeira, Sócio da Ecoagro, destacou que o Fiagro já mobilizou centenas de milhares de investidores, mas a maioria é composta por pessoas físicas. O desafio agora é direcionar recursos para infraestrutura, armazenagem e logística, gargalos que limitam o crescimento do setor.
Ele mostrou os caminhos práticos de investimento, ressaltando que há espaço para investidores de longo prazo fazerem alocações que agreguem valor nas áreas citadas, gerando resiliência e trazendo retornos sustentáveis. “Eu entendo que o financiamento da safra não vai fazer parte da nossa ideia de fundos. É muito mais inteligente a infraestrutura. São operações de longo prazo”.
“O que eu tenho de gargalo nos portos, nas estradas. Isso tudo é oportunidade”, continuou. “Esse é o mundo que a gente enxerga, de longo prazo, que tem rentabilidade e sofre pouco com o clima”. Teixeira ressaltou que o Fiagro é um instrumento recente e em construção, e ressaltou a importância da educação para o desenvolvimento do agronegócio, reafirmando a disposição para contribuir. “Eu aprendi no agronegócio que não se leva a operação de prateleira. É entender a necessidade e respeitar”, acrescentou.
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Fonte: Abrapp em Foco, em 03.10.2025.