Por Antonio Penteado Mendonça
Combate à AIDS no Brasil é um fato a ser comemorado e atualmente não significa mais um risco de agravação da sinistralidade do seguro de vida.
A divulgação dos dados a respeito da evolução da AIDS no Brasil traz algumas informações interessantes para o setor de seguros. A primeira á altamente positiva: o Brasil continua sendo um dos campeões desta luta, apresentando resultado entre os melhores do mundo, como consequência da seriedade com que o País desde o começo enfrentou a doença.
Se no começo a AIDS era devastadora e matava quem contraía o vírus, com o passar do tempo, o surgimento de coquetéis de medicamentos e os avanços da medicina permitiram que os portadores do HIV levassem uma vida praticamente normal, podendo inclusive casar e ter filhos, sem o risco da criança nascer infectada.
Sob estes aspectos a evolução do tratamento e do combate ao vírus HIV são notícias a serem comemorados. Na prática, no universo do seguro, significam o controle de uma epidemia que já foi devastadora, mas que foi sendo domada e atualmente não representa mais um risco de agravação da sinistralidade do seguro de vida, o que permite que estas apólices sejam contratadas sem maiores problemas pelos portadores do HIV.
O dado ruim é que a doença está crescendo entre os jovens. A contaminação da AIDS havia sido controlada pelo uso massivo de camisinhas e pelo cuidado na escolha dos parceiros. Como a doença foi perdendo a aura de terror que inspirava duas décadas atrás, os jovens, atualmente, vêem a AIDS como uma doença crônica, que pode ser cuidada. E aí é que mora o perigo, se ela pode ser cuidada e controlada, ela ainda não pode ser curada. E o seu tratamento custa muito caro, atingindo as contas da saúde pública.
O fato é que, apesar de haver medidas que evitam a contaminação, se adotadas até certo tempo após a relação sexual, os jovens não sabem, nem se interessam em perguntar se seus parceiros estão ou não contaminados; e, por isso, além de não usarem camisinha, também não procuram as outras medidas inibidoras do vírus após praticarem sexo de risco. E estas medidas hoje representam a quase certeza do sexo seguro, ainda que praticado sem preservativo.
O problema é que, se a AIDS vai sendo controlada, existem outras doenças sexualmente transmissíveis tão graves quanto ela, que não chamam a atenção, antes de tudo pelo quase desconhecimento sobre elas.
Mas uma vez os jovens são as grandes vítimas. Ao fazer sexo sem camisinha, moços e moças se expõem a doenças como as diferentes hepatites, que são tão letais quanto a AIDS.
Se alguém não presta atenção, nem se preocupa com o entorno, não tendo qualquer pudor em passar para outra pessoa um vírus sem cura e que pode matar, por que cuidaria do seu automóvel, da sua casa, do seu negócio?
Se de um lado os números sobre a AIDS dão esperança, de outro, desnudam uma realidade dramática, que cobra seu preço em vidas, seja pela violência decorrente da falta de responsabilidade e pela indiferença com a vida humana, seja pelas doenças que são transmitidas sem qualquer tipo de cuidado ou censura.
Este cenário é ruim para a sociedade como um todo. Mais de 60 mil mortos no trânsito e 50 mil assassinatos por ano dão a medida da tragédia. Mas é pior ainda para o setor de seguro. Afinal, seguro existe para repor o patrimônios e capacidades de atuação atingidas por eventos danosos previstos no contrato. Quanto maior a sinistralidade, mais caro o seguro.
O triste é que o quadro acima se insere num desenho mais amplo, fruto de todas as distorções que custam caro para o Brasil. Enquanto o problema social não for tratado de outro jeito, há muito pouco que pode ser feito.
Fonte: O Estado de São Paulo, em 15.12.2014