Entrevista com Evandro Oliveira - Diretor de Previdência da Towers Watson no Brasil
Diário dos Fundos de Pensão - A engenharia dos planos busca sempre o melhor equilíbrio entre os compromissos que as empresas desejam assumir e as garantias pedidas pelos participantes. Os planos de Contribuição Definida são com certeza parte da resposta, mas a seu ver estão conseguindo cumprir o seu papel previdenciário ?
Evandro Oliveira - Os Planos de Contribuições definidas já se tornaram o principal modelo de previdência complementar no Brasil, os modelos de Benefício Definido estão em modo de “extinção”, visto que na sua grande maioria estão fechados para novos participantes, permanecendo disponíveis para um grupo cada vez mais restrito. Com base no acompanhamento das reservas acumuladas pelos planos de contribuições definidas ao longo dos anos, bem como nas projeções de benefícios que realizamos periodicamente, já existem indícios de que as reservas que serão acumuladas por estes planos promoverão benefícios inferiores àqueles oferecidos pelos modelos de benefícios definidos, mesmo quando consideradas as reservas acumuladas por contribuições dos participantes.
É necessário orientar os participantes quanto ao volume adequado de contribuições, para que o plano de aposentadoria seja realizado, de tal sorte que o padrão de vida almejado por eles tenha condições de ser atingido.
Diário - O cuidado com a comunicação é uma preocupação permanente de muitos dirigentes. Em seu entendimento a situação que descreve está sendo hoje bem comunicada ?
Evandro - Vejo que o tema “Comunicação” tem evoluído muito ao longo dos anos e que atualmente a grande maioria dos fundos de pensão possuem algum programa estruturado de orientação aos seus participantes. Por outro lado, me parece que a comunicação atual não está sendo capaz de promover as mudanças necessárias no comportamento dos participantes, promovendo o aumento requerido nos níveis de suas contribuições aos planos de aposentadoria.
Acredito que temos que levar os programas de Comunicação para um novo estágio, evoluir da conscientização para a ação. A tônica dos processos de comunicação está focada na explicação dos planos e na importância de aderir ao programa, agora temos que dar mais um passo e municiar os participantes de ferramentas e informações que favoreçam a construção de reservas individuais compatíveis com suas necessidades na aposentadoria.
Diário - Novos desenhos de planos vem surgindo no mundo. Algum em particular chama a sua atenção e reúne maiores condições de se impor ao mercado ?
Evandro - As inovações que temos visto globalmente não alteram a natureza da acumulação dos benefícios no formato de contribuições definidas, me parece pouco provável que na próxima década este modelo passe por alterações relevantes. Neste contexto, a acumulação adequada de recursos por meio de contribuições individuais aos planos de aposentadoria continuará sendo o maior desafio do sistema.
Uma vez que os indivíduos tenham acumulado reservas compatíveis com suas necessidades eles poderão se valer de soluções que visam endereçar algumas características dos planos de contribuições definidas que impõe desafios aos seus participantes.
Um destes desafios é a forma de pagamento dos benefícios, o formato CD na aposentadoria pode levar os participantes a consumir suas reservas rapidamente e se ver sem recursos em idades mais avançadas. Neste cenário, o compartilhamento dos riscos de investimentos e de sobrevivência após a concessão dos benefícios se torna muito importante, várias discussões neste sentido tem se travado na Europa e Estados Unidos, mas de fato não existe uma solução equilibrada para esta equação que possa ser replicada em nosso sistema.
Estamos acompanhando o desenvolvimento destas soluções e trabalhando para adaptá-las à nossa realidade, porém se os participantes não acumularem reservas adequadas o compartilhamento de riscos se torna de pouca relevância.
Diário - Quais as reflexões que gostaria de fazer sobre o quadro atual da previdência complementar fechada no Brasil ?
Evandro - Os pilares de nosso sistema são muito sólidos e os desafios com que nos deparamos são aqueles decorrentes da evolução natural do sistema. Acredito que estamos no caminho certo para possibilitar que as diversas gerações que hoje participam dos planos de aposentadoria tenham condições de se aposentar com dignidade e no momento adequado.
As diversas reflexões sobre os modelos previdenciários que temos presenciado e, principalmente, as ações e inovações que já surgem destas reflexões me dão a convicção de que o sistema está evoluindo e que cumprirá de forma adequada seu papel previdenciario em nossa sociedade.
Fonte: Diário dos Fundos de Pensão, em 02.10.2015.