Por Antonio Penteado Mendonça
De 1939 a 2007 o IRB (Instituto de Resseguros do Brasil) teve o monopólio das operações de resseguro no país. Sua criação foi um movimento importante para consolidar o setor de seguros nacional e, ao mesmo tempo, manter reservas estratégicas no Brasil, em vez de serem enviadas para fora, como acontecia até então.
Com o IRB dando suporte, as seguradoras nacionais começaram a ganhar volume e a se equiparar às seguradoras estrangeiras que dominavam o mercado brasileiro. O monopólio do IRB permitia que elas encontrassem colocação para seus excedentes, mesmo a maioria delas não conhecendo muita coisa de resseguro.
Durante praticamente 70 anos o IRB foi o protetor do setor, dando capacidade, tecnologia e mão de obra qualificada para o mercado. Mais do que isso, durante a maior parte deste tempo, o IRB foi o xerife do mercado. Era ele quem determinava o que podia e o que não podia ser feito. Balizado por tarifas obrigatórias impostas pelo IRB, o setor dançava apertadinho, sujeito ao controle direto do Instituto, que podia, inclusive, avocar para si a regulação dos sinistros.
Apesar de parecer estranho, graças a esta atuação quase sufocante, o mercado segurador brasileiro se desenvolveu de forma bastante saudável. Claro que aconteceram quebras de companhias importantes, mas, entre mortos e feridos, em 2007, quando da votação da lei que encerrou seu monopólio, o Brasil tinha seguradoras saudáveis e capitalizadas, corretores de seguros competentes e uma boa oferta de cobertura para os riscos nacionais.
Ninguém discute que ainda há muito a ser feito. Que a penetração dos seguros é baixa na sociedade, que vários riscos não são seguráveis, que amplas regiões do país têm pouca possibilidade de contratar seguros modernos, que o agronegócio está longe de receber a proteção adequada, que mais de 18 milhões de residências não são seguradas, etc.
É tudo verdade, mas, se olharmos pelo outro lado, é preciso não esquecer que em 20 anos o mercado saltou de menos de 1% do PIB para mais de 6%. Além disso, a deficiência atual é o diferencial que permite garantir que nos próximos anos o setor terá enorme capacidade de crescimento.
Após o final do monopólio do resseguro, com o desenho adotado pelo país, o IRB se consolidou como nosso principal ressegurador. Nem poderia ser diferente. Afinal, estava aqui há 70 anos e conhecia os riscos como nenhum outro player. Num segundo momento, o Governo achou que as coisas poderiam tomar outro rumo e, numa medida completamente equivocada, interferiu no mercado e mudou as regras com a ideia de proteger o IRB, que não precisava desta proteção. Para completar, agora, quando os players tinham se adequado a estas regras, o Governo, de novo de forma atabalhoada, mudou tudo, voltando para o que era no começo.
É neste cenário, agravado pela forte crise econômica que assola a nação, que a abertura de capital do IRB deve acontecer. E o seu resultado tem tudo para ser um sucesso.
Mágica? Não. De forma alguma. O IRB é uma empresa competente, com capacidade para atuar em seu ramo e com bom potencial de crescimento, mesmo com a crise castigando o país. Quer dizer, o IRB é um bom negócio e sua privatização, uma decisão acertada.
Não custa lembrar que o começo do Mensalão, além dos Correios, teve o IRB como protagonista. Num cenário competitivo como é o mundo atual, uma empresa com as características do IRB continuar estatal é completamente sem sentido. Daí a sua privatização ser importante. O IRB é de longe o maior ressegurador local brasileiro e tem tudo para manter esta posição, mesmo com o Governo, mais uma vez, mudando as regras com o jogo em andamento.
Fala-se que o IPO pode gerar um resultado entre 3 ou 4 bilhões de reais. É número de gente grande. Mas, mais importante do que ele, a abertura de capital vai garantir ao IRB uma gestão profissional, feita por quem conhece e não por políticos ou afilhados de políticos que não conseguem emprego. Isto é tudo que o mercado precisa para que a retomada da economia permita o seu crescimento nos patamares acima.
Fonte: SindSegSP, em 21.08.2015.