Em 2002 o mercado viveu uma situação parecida mas não comparável ao acontecido no ano passado, quando os investidores brasileiros aprenderam de fato que a renda fixa pode ser algo extremamente volátil. Os gestores de fundos de pensão estão certamente entre os que passaram por esse duro aprendizado, mas entendida a lição dedicam-se agora a aprender com uma outra experiência: o investimento no exterior. Devagar, estão avançando.
No final do mês passado aconteceram dois movimentos nesse avanço: A Faelba, da Bahia, após passar por todas as instâncias de sua governança e comunicar com toda a transparência e linguagem acessível aos participantes o que iria fazer, investiu R$ 4 milhões, através de dois gestores (HSBC e BlackRock), em fundos de renda variável com foco nos mercados dos países desenvolvidos e no global. Já em Minas Gerais, nada menos de uma dezena de entidades, isto é, praticamente todas as que operam no Estado, reuniram-se durante uma manhã com representantes da Black Rock, Schroders , Franklin Templeton e J. P. Morgan. O resultado prático dessa reunião é que a maioria entrou no mês de junho já tendo enviado aos seus conselhos deliberativos os pedidos de autorização para investir fora do País.
Todos, sem exceção, estão investindo ou se preparando para fazê-lo no estilo um passo depois do outro. Quer dizer, está todo mundo convencido de que ao menos nessa primeira etapa trata-se de um lento aprendizado, que naturalmente envolve valores modestos nesse início. “O dinheiro que já estamos investindo representa menos de meio ponto percentual de nosso patrimônio”, exemplifica Francisco de Lima Moacir, Diretor Administrativo e Financeiro da Faelba.
“O objetivo nesse primeiro ano é mais o de aprender”, resume Gualter Moreira, Diretor de Investimentos da mineira Aceprev, batendo na tecla da cautela.
Na verdade, não está sendo diferente com as entidades que mais avançaram nessa experiência, como a Fibra, Fachesf, Previ, Petros e Funcef.
Francisco até pensa em voltar a investir ainda este ano no exterior e se o fizer será com foco em ações nos EUA. Na verdade, esse investimento já estava até previsto e deveria ter ocorrido nessa primeira leva, mas o fundo existente no Brasil e que seria o veículo para a aplicação lá fora não atendeu a um dos critérios da Faelba, por ter um patrimônio ainda pequeno. Algo que foi entendido como falta de consolidação suficiente da carteira e que poderia provocar dificuldades operacionais no futuro.
Em Minas, Gualter acredita que do estágio atual as entidades deverão passar em breve aos investimentos concretos no exterior. “Isso muito provavelmente vai acontecer ainda em 2014”, adianta ele.
Mas o exterior, no caso da Faelba, não está sendo a única resposta às imprevisibilidades do mercado interno. Desde o ano passado, quando a volatilidade se manifestou, a entidade já investiu em três fundos multimercados estruturados e em um segundo fundo de private equity, totalizando R$ 6 milhões, ou seja, menos de 1% do patrimônio. “Também aqui estamos indo devagar, aprendendo”, explica Francisco.
Fonte: ABRAPP, em 04.06.2014.