A incidência do câncer colorretal no Brasil e a importância do diagnóstico precoce será um dos temas a ser debatido no I Fórum da Câmara Técnica de Endoscopia Digestiva do Conselho Federal de Medicina (CFM), a ser realizado no próximo ano. O assunto foi debatido nessa quarta-feira (26) em reunião da Câmara Técnica.
“O diagnóstico precoce salva vidas e nós, endoscopistas digestivos, estamos ao lado da população na luta por um maior acesso aos exames que fazem esse rastreamento. Por isso é tão importante que o nosso primeiro Fórum aborde este problema”, afirmou o coordenador da comissão, conselheiro federal Nailton Lyra.
Outro assunto debatido na reunião foi o resgate do nome da especialidade para Endoscopia Digestiva. Foram debatidas estratégias e definida uma visita do presidente da Sociedade Brasileira de Endoscopia e Endoscopia Digestiva (Sobed), Eduardo Moura, ao presidente do CFM, Hiran Gallo, para tratar do tema. “É importante que estejamos juntos nesta reivindicação”, afirmou Eduardo Moura.
Além do presidente da Sobed e do coordenador da Câmara Técnica, também participaram da reunião os endoscopistas digetivos Jairo Alves, Thiago Alonso Domingues, Daniela Milhomem Cardoso, Paulo Bittencourt e Ricardo Dib.
Painel debate a LGPD na saúde

Como maximizar o uso dos dados em saúde, sem violar as determinações da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e o sigilo do paciente? Essa pergunta permeou as apresentações do painel “Segurança de dados e LGPD da Saúde”, durante o 1º Fórum de Saúde Digital do Conselho Federal de Medicina (CFM) nesta quarta-feira (26).
A primeira palestrante foi a representante da Coordenação Geral de Normatização da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), Maria Carolina Ferreira da Silva, que falou sobre o tema “Proteção de dados: ética e privacidade”. Após explicar o que são dados pessoais sensíveis, ela salientou que a maioria das informações de saúde se encaixa nessa classificação, exigindo “uma segurança mais robusta” para o arquivamento, “que hoje não é feito dentro da clínica, mas nas nuvens”.
Maria Carolina também enfatizou que só devem ser capturados os dados que tenham uma finalidade específica e que o paciente deve ser informado sobre o que será feito com essas informações. “O dado é do paciente, por isso que todos os protocolos de segurança devem ser seguidos”, advertiu.
“A interoperabilidade dos sistemas e prontuário eletrônico” foi o tema da palestra da representante do Departamento de Informação e Informática do SUS (Datasus), Thaís Lucena, que falou sobre a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS). “Se antes buscávamos a integração entre os diversos sistemas, o que nem sempre era possível, agora buscamos falar todos uma mesma linguagem, como preconiza a Organização Mundial de Saúde”, explicou.
Thaís Lucena explicou que o Datasus enfrenta diversos desafios, como a fragmentação dos dados, o uso de tecnologias diferentes pelos entes da federação, a segurança, a governança e a soberania dos dados, mas que as dificuldades estão sendo superadas. “Ainda não somos uma rede, mas saímos de um modelo fragmentado para um esquema similar a uma rede. Saímos de uma lógica contábil para um modelo centrado no paciente”, argumentou. Entre os avanços, ela citou a plataforma SUS Digital.
O compartilhamento de dados na saúde suplementar foi o assunto abordado pelo Encarregado de Proteção de Dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Luís Gustavo Meira Homrich. Em sua fala, ele apresentou os números da saúde suplementar no Brasil e destacou que a ANS foi a primeira agência a fazer acordo de cooperação com a ANPD sobre o tratamento de dados. “Sempre tivemos uma preocupação muito grande com a proteção e integridade das informações que estão sob a nossa responsabilidade”, afirmou.
Também explicou como funciona o Padrão TISS, que é o sistema obrigatório para a Troca de Informações na Saúde Suplementar, e o que está sendo feito para que as informações sejam incorporadas à Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS). “A perspectiva é de que, no futuro, haja um compartilhamento de dados para o fortalecimento da regulação na área da saúde”, adiantou.
Ao final das apresentações, a presidente do painel, conselheira Maíra Dantas, elogiou o trabalho que vem sendo realizado pelo poder público para integrar as informações de saúde dos brasileiros, mantendo a preocupação com “a segurança jurídica no compartilhamento de dados”.
CFM abre evento com debate sobre impacto da tecnologia na prática médica
O uso da tecnologia em saúde e seu impacto no exercício da medicina marcaram a abertura do 1º Fórum de Saúde Digital do Conselho Federal de Medicina (CFM), realizado nesta quarta-feira (26), na sede da autarquia, em Brasília. A cerimônia contou com a participação do 1º vice-presidente do CFM, Emmanuel Fortes, e do 1º secretário, Hideraldo Cabeça, responsável pela coordenação de informática do Conselho.
Emmanuel Fortes destacou o esforço institucional do CFM para se manter na vanguarda dos temas ligados à medicina, em especial no campo da saúde digital. Ele ressaltou que as novas ferramentas tecnológicas, incluindo a inteligência artificial (IA), já fazem parte da rotina médica e também deverão ser incorporadas à fiscalização do exercício profissional.
O 1º vice-presidente enfatizou ainda que princípios fundamentais como o sigilo das informações, a autonomia médica e a definição clara das responsabilidades ética, civil e criminal em atendimentos mediados por IA são inegociáveis. “A inteligência artificial é apenas um instrumento; essencial nesse processo é o médico, não a máquina”, afirmou, defendendo uma prática cada vez mais moderna, porém sempre pautada pela ética e pela humanização.
Na sequência, Hideraldo Cabeça falou sobre a percepção dos médicos a respeito do uso da Inteligência Artificial na prática clínica. De acordo com ele, dados de um inquérito junto a 4500 médicos, mostram que a maioria dessa população considera que a categoria não está adequadamente preparada para utilizar essa ferramenta no seu dia-a-dia. Essa mesma visão dos profissionais se estende para a sociedade, em geral.
Apesar desse sentimento, o 1º secretário do CFM ressalta que levantamentos indicam que os médicos já utilizam algum tipo de IA no seu cotidiano e não consideram que esse instrumento tecnológico substituirá o profissional na linha de frente de atendimento, embora reconheçam seu alto potencial para qualificar os indivíduos, a gestão e os processos clínicos. “Nesse sentido, as preocupações éticas com o uso da IA são centrais”, resumiu o conselheiro, colocando-se à disposição para contribuir com orientações e debates sobre o tema.
“O uso da tecnologia em saúde e seu impacto no exercício da medicina” – A primeira conferência do dia, presidida pelo conselheiro federal Bruno Leandro Souza (PB) e apresentada por Fábio Jatene, vice-presidente dos Conselhos dos Institutos de Radiologia e de Inovação do Hospital das Clínicas, aprofundou a discussão sobre os desafios e as oportunidades trazidos pela transformação digital.
Em sua exposição, Jatene chamou atenção para a velocidade com que a saúde 5.0 vem modificando a prática médica, e mencionou o aumento acentuado de ferramentas de inteligência artificial generativa, publicações científicas e soluções digitais voltadas à assistência. Ele citou, por exemplo, o crescimento de plataformas de apoio à decisão clínica baseadas em IA e lembrou que o volume de dados em saúde já responde por parcela significativa das informações geradas no mundo, com tendência de expansão nos próximos anos.
O conferencista também abordou os impactos econômicos da incorporação tecnológica nos sistemas de saúde, as diferenças geracionais no uso de dispositivos e aplicativos e a necessidade de adotar uma mentalidade disruptiva para acompanhar essas mudanças. Ao apresentar iniciativas do Hospital das Clínicas e do InCor – como o INOVAHC, o uso de modelos 3D para planejamento cirúrgico, dispositivos vestíveis para monitorização cardíaca e cirurgias telerientadas –, mostrou como projetos de inovação vêm alterando o cuidado com o paciente e a organização dos serviços.
Para Jatene, o grande desafio é incorporar tecnologias de forma inteligente e custo-efetiva, sem inviabilizar o sistema e sem perder de vista o papel central do médico. Ao encerrar, sua fala, reforçou que “mudança é um processo, não um evento”, destacando que a saúde digital deve ser construída com responsabilidade ética e segurança.
Fonte: CFM, em 27.11.2025