Entrevista com Acyr Xavier Moreira, Coordenador da Comissão Técnica Nacional de Sustentabilidade
Diário dos Fundos de Pensão - Quais são as principais iniciativas de sustentabilidade nacionais e internacionais ligadas às atividades dos fundos de pensão?
Acyr Xavier Moreira - Para fundos de pensão, que por suas próprias características precisam pensar no longo prazo, é muito importante estar atento e alinhado às iniciativas que trabalham para promover um ambiente sustentável.
O PRI – Princípios para o Investimento Responsável – reúne investidores e gestores de ativos em torno de princípios socioambientais, de governança e de transparência nos investimentos. Já a OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico – tem buscado incluir os governos nessa discussão. O programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, a UNEP, vem desenvolvendo um trabalho que se liga diretamente ao negócio dos fundos de pensão, que é o dever fiduciário. Por sua vez, o Carbon Disclosure Project – CDP – é um banco de dados ambientais que tem como objetivo apoiar práticas de investimento ligadas à sustentabilidade e ao meio ambiente.
A ideia é que a incorporação dessas questões avance pelos processos dos fundos de pensão e que isso possa ser demonstrado de forma transparente por meio, por exemplo, do Relato Integrado, que é o foco do IIRC - Conselho Internacional de Relato Integrado.
Diário - Como os trabalhos desenvolvidos nessas iniciativas efetivamente se envolvem com os processos dos fundos de pensão?
Acyr - Os fundos de pensão têm como objetivo principal pagar benefícios no longo prazo, logo precisam necessariamente de sustentabilidade, tanto do meio ambiente como do sistema financeiro, para que possam cumprir sua missão. Nesse sentido, o PRI reúne grandes agentes de investimento em torno de diretrizes que buscam justamente construir esse ambiente. Portanto, é do interesse dos investidores de longo prazo que essas questões sejam efetivamente implementadas.
O projeto da UNEP, por exemplo, que aborda o dever fiduciário, parte da premissa de que já existem políticas ligadas à sustentabilidade (Códigos de Boas Práticas, disclosure de asset owners etc), mas que reguladores, fiscalizadores e investidores devem trabalhar para que esses compromissos sejam efetivamente incorporados e seus resultados divulgados.
Com o apoio de diversos governos, a OCDE desenvolve trabalho ligado a diretrizes para empresas multinacionais e ressalta a importância do engajamento do investidor com as empresas investidas. Quando um governo adere às diretrizes, ele incentiva e acompanha a sua adoção e busca envolver os investidores nesse processo. No Brasil, esse trabalho é acompanhado pelo Ministério da Fazenda, que promoveu em 2014 workshop entre diversos stakeholders, dentre eles fundos de pensão.
O CDP, por meio de seu extenso banco de dados, apoia a inclusão de questões ambientais em processos de investimento. Finalmente o Relato Integrado permite demonstrar como todas essas práticas de responsabilidade social, ambiental e de governança necessariamente se interligam com os diversos processos dos fundos de pensão.
Diário - Considerando a heterogeneidade de nosso sistema, como os fundos de pensão podem buscar um maior engajamento em sustentabilidade?
Acyr - Como resultado de todas essas iniciativas, temos verificado crescimento na qualidade e quantidade da inserção de questões de sustentabilidade nos investimentos das empresas e dos investidores institucionais. No entanto, essa integração varia entre esses investidores, de acordo com sua escala, a abrangência de suas atividades, e outras características próprias.
A Abrapp, como associação que reúne fundos de pensão dos mais variados portes, exerce papel muito importante para minimizar o impacto dessas diferenças e avançar no engajamento. Só nesse ano, por exemplo, a Abrapp promoveu painel técnico no 36º Congresso Brasileiro dos Fundos de Pensão, lançou o 1º Prêmio Nacional de Sustentabilidade, além de ter colocado o assunto em pauta permanente da Comissão Técnica Nacional de Sustentabilidade. Isso mostra que há espaço para que a discussão aconteça nos mais variados níveis.
Ou seja, em graus diferentes, mas com a mesma sintonia, os fundos de pensão podem trabalhar a inclusão de aspectos sociais, ambientais e de governança em seus processos, sempre em linha com o cumprimento de suas obrigações no longo prazo.
Fonte: Diário dos Fundos de Pensão, em 21.10.2015.