Por Armando Vergilio (*)
No Brasil, 90% das maiores empresas ainda não têm apólice contratada
Neste 5 de junho, Dia do Meio Ambiente, o Brasil não tem muito o que comemorar. Discutir riscos ambientais nunca foi tão importante como agora. Por isso, é o momento de refletirmos sobre a necessidade de seguros ambientais e catastróficos no cenário nacional, com um olhar realista no futuro para pessoas e empresas envolvidas com o tema. Tais coberturas, ainda pouco contratadas no Brasil, são vistas no exterior como condição básica para a adequada proteção da sociedade e do patrimônio ambiental, assegurando o reparo dos danos causados, em geral volumosos e não raras vezes, catastróficos.
Contudo, essa questão ganhou mais evidência após o rompimento desastroso da barragem da Samarco em Mariana (MG). A tragédia, em novembro de 2015 e ainda na memória de todos nós, fez crescer o interesse das empresas por seguros desse tipo. Não por acaso e sim pela mais triste fatalidade. A recuperação de toda a área pode custar até R$ 14 bilhões, que não estão totalmente cobertos pelo seguro contratado pela mineradora, estimado em pouco mais de R$ 3,8 bilhões.
No Brasil, além da seca, com prejuízos já contabilizados, as enchentes de verão são outro destaque. O tema era sazonal, mas com as alterações climáticas globais faz cada vez mais parte de nosso cotidiano. Por isso, todos os anos, as chuvas levam parte das reservas econômicas de empresas e pessoas (há informações que apontam R$ 230 milhões por ano). Mas, o hábito do seguro não existe. E os bens que tanto se trabalha para construir vão, literalmente, por água abaixo.
Hoje, as perdas mundiais com catástrofes superam US$ 100 bilhões. Nos últimos dez anos, US$ 1,3 trilhão dessas perdas estavam descobertos por seguro. Além dos acidentes ambientais, furacões, tsunamis e secas, são uma dura lição para a sociedade e, particularmente, para o mercado de seguros. Empresas e a sociedade de maneira geral devem debater este assunto como forma de resguardar as riquezas produzidas por todos e o patrimonial ambiental.
Países como EUA e Canadá, já contam com a cultura do seguro ambiental consolidada há mais de 30 anos, assim como os europeus. Já os países latino-americanos, em geral, não estão adequadamente cobertos contra desastres naturais. Assim, as consequências financeiras dessas catástrofes recaem sobre os estados e a população.
No Chile, que todos os anos sofre com terremotos, já é oferecido e contratado pela população a opção de seguros contra este tipo de incidente. Já os seguros ambientais se consolidaram como requisito fundamental para o exercício de determinadas atividades como mineração, extração de petróleo e gás e a indústria química. É um serviço voltado para empreendimentos que utilizem algum tipo de matéria-prima que possa causar poluição ambiental em seus processos de produção, gerando resíduos capazes de degradar o meio ambiente.
Infelizmente, no Brasil, 90% das maiores empresas ainda não tenham essa apólice contratada. São empreendimentos que estão, todos os dias, em atividade por todo o país e seguem sem a cobertura necessária para eventuais acidentes. O que fazem em caso de alguma eventualidade? Quanto custa a saúde de uma população de 200 milhões de pessoas e com as águas de seus rios contaminadas por rejeitos tóxicos? Ou a morte de milhares de animais mortos numa floresta que tem suas terras queimadas por um incêndio vindo de uma refinaria próxima?
(*) Armando Vergilio é presidente da Fenacor.
Fonte: DCI, em 05.06.2016.