Por Isabela Bolzani
De acordo com especialistas, com crise e retração de companhias aéreas e navais, a atuação do mercado voltado para esses setores passa a depender da renovação dos produtos já contratados
Os seguros marítimos e aeronáuticos, apesar da alta de 87,9% em abril deste ano com relação a igual mês de 2015, mostra queda nos últimos meses. O mercado tem se mantido por produtos já existentes e é diretamente afetado pela crise de seus respectivos setores.
De acordo com dados da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais (CNseg), a arrecadação dos produtos voltados para o setor aeronáutico e marítimo caiu 38,2% de janeiro a abril deste ano.

Segundo Alexandre Del Fiori, assessor técnico do Sindicato dos Corretores de Seguros de São Paulo (Sincor- SP), mesmo os seguros tendo se tornado quase uma "obrigatoriedade" para as empresas desses setores, a maioria dos transportes é mantida durante muito tempo e, com a crise, a demanda por novas embarcações e aeronaves caiu significativamente.
"Essas carteiras não estão com uma distorção acentuada porque, com o atual poder aquisitivo dessas companhias, o seguro é uma necessidade, já que qualquer situação seria algo muito grande para suportar sozinho. Além disso, isso é uma coisa bastante limitada. Não é toda hora que você compra uma embarcação nova ou uma aeronave. Existem companhias que mantém o mesmo meio rodando por 20 anos ou mais. O que nós vemos não é um problema de crise, mas, sim, de troca, manutenção e renovação dos seguros já contratados", identifica.
Com o dólar alto e a retração da demanda, empresas aéreas já estimavam quedas entre 4% e 9% em decolagens domésticas. Em relação ao setor naval, os preços do petróleo e os resultados da operação Lava Jato também já refletiam no segmento em forma de demissões, com uma queda de 54% de empregos formais desde o final de 2014 até fevereiro deste ano, segundo informações do Sinaval, instituição representante da indústria naval.
"Isso acaba afetando o setor de seguros porque, com a baixa da demanda, o lucro diminuiu e as empresas não estão mais precisando da quantidade de aeronaves e embarcações que precisavam antes para suprir suas atividades. O que existe continua sendo segurado, mas não há mais uma necessidade de encomendar novos transportes", ressalta Del Fiori ao DCI.
Sinistralidade
Dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep) apontam que, para os produtos de casco marítimo, a sinistralidade aumentou 56% no acumulado de 12 meses entre abril de 2015 e 2016, quando comparado à mesma base de comparação em período exatamente anterior.
"Apesar desse número não considerar as despesas de comissionamento, o que poderia elevar ainda mais esse número, é normal, em determinadas situações, ver que o prêmio ganho fica maior do que o emitido, o que reflete na sinistralidade", explica Del Fiori.
O assessor técnico do Sincor explica, ainda que esses seguros não são feitos por todas as seguradoras, o que acaba concentrando, de alguma forma, as operações. "É preciso uma especialidade no pessoal do backoffice que realmente entenda de sinistros. Não são seguros simples de serem feitos, eles requerem um pouco mais de conhecimento", diz ele.
O especialista ainda ressalta que, em relação ao tempo do transporte e da aceitação da seguradora para fazer a cobertura, depende tanto do parâmetro das companhias aéreas e navais quanto da própria responsável pelo seguro.
"Tem seguradoras, por exemplo, que não aceitam transportes acima de 10 anos. Já por parte das companhias, é mais uma questão de capacidade. Em algumas situações, os produtos vencem e essas empresas fazem uma análise da sua capacidade de bancar o risco de uma embarcação ou aeronave sem seguro. É algo que, dependendo da situação econômica, fica mais viável para elas. Porque é isso ou ter investimento suficiente para encomendar um transporte novo e assegurá-lo", completa.
Apesar da flutuação no volume de arrecadações do mercado segurador no setor, nos dados da CNseg, Del Fiori explica que, principalmente no atual ambiente econômico, depende muito do poder aquisitivo da população. "A concentração em certos meses é muito sazonal e depende diretamente da demanda das empresas. Quando a crise econômica arrefecer, e conforme o poder aquisitivo das pessoas aumentar, haverá demanda maior e mais garantida é a contratação desses seguros" , conclui o especialista.
Fonte: DCI em 16.06.2016.