Em almoço de fim de ano do mercado segurador paulista, promovido pelo Sindseg-SP, o economista Maílson da Nóbrega traçou um cenário ruim para economia, mas previu melhora já no final do próximo ano. Ele descartou a hiperinflação e o risco de convulsão social, mesmo com a possibilidade de impeachment, por acreditar que a democracia está consolidada e as instituições fortalecidas. Sua previsão é que haverá um novo período de prosperidade para o país em 2018.
O crescimento do setor de seguros acima da economia nos últimos anos foi destacado pelo presidente do Sindicato das Seguradoras de São Paulo (Sindseg-SP), Mauro Batista, como a principal razão para acreditar que será possível resistir à crise. “Temos uma grande demanda reprimida”, disse ele durante a abertura do tradicional almoço de fim de ano do mercado segurador de São Paulo, realizado pelo Sindseg-SP, dia 2 de dezembro, no Maksoud Plaza. Entre as principais lideranças do setor reunidas no evento, o CVG-SP marcou presença por meio do seu presidente Dilmo B. Moreira.
No mesmo tom otimista, o presidente da Fenacor, Armando Vergílio, disse acreditar que o seguro converterá a crise em oportunidades. Alexandre Camillo, presidente do Sincor-SP reforçou ao lembrar que a indústria de seguros é resiliente e batalhadora. Já o presidente da CNseg, Jayme Brasil Garfinkel, observou que o mercado é privilegiado por ser um dos últimos a entrar na crise. Convidado especial do evento, o ex-ministro Maílson da Nóbrega manteve o tom otimista elevado em palestra, prevendo uma “virada” ou um novo período de prosperidade para o país, porém, somente em 2018. “A crise ainda vai piorar, para depois melhorar”, resumiu.
Cenário de impeachment
Maílson concentrou sua apresentação no período dos próximos dois anos, quando prevê haverá o agravamento da crise econômica e política. Mesmo assim, ele tratou de tranquilizar a plateia de seguradores, ressaltando que o país reúne todas as condições para não apenas se recuperar, como para voltar a crescer. Produtividade, segundo o ex-ministro, será a chave para o crescimento econômico. “Mas, depende de reformas, como tributária, previdência social, logística etc.”, frisou, destacando, em seguida, que “estas reformas são complicadas, porque hoje há uma deficiência no governo”, disse.
A gestão econômica do atual governo foi, aliás, criticada duramente por Maílson, que enxerga a solução para os “estragos” apenas com a troca de liderança na presidência da República. Em sua avaliação, o próximo presidente será do PSDB. Poucas antes horas antes de ser anunciado o acolhimento do pedido de impeachment pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, Maílson ainda defendia a permanência da presidente Dilma no governo como a melhor alternativa.
“Mesmo que a Dilma permaneça no poder - o que seria o melhor cenário para o país -, estamos construindo uma sociedade civilizada, avançada, que almeja as regras, as leis, a Constituição. Erramos na escolha da presidente, mas ela não pode sair do poder, a não ser de acordo com a lei”, frisou. Para o ex-ministro, embora 63% da população deseje a saída da presidente, conforme apurou o Ibope, os motivos apontados, como a “incompetência do governo” e a rejeição ao PT, não são suficientes para levar adiante um processo de impeachment.
Maílson não acredita que o impeachment resulte na saída da presidente Dilma. Ele lembrou que o processo tem cinco etapas e apenas uma, a do presidente da Câmara, é uma decisão solitária. Nas demais, seria preciso, inclusive, contar com os votos de dois terços dos deputados contra a presidente, o que é dificílimo, a seu ver. “Pois bem, acho que não haverá impeachment e que a Dilma concluirá o seu mandato. Ela precisa estar lá para que as leis sejam cumpridas, as normas sejam observadas e para pagar seus pecados”, afirmou.
Mas, mesmo em cenário de impeachment, Maílson frisou que “o Brasil não vai acabar”. Em sua avaliação, o PT piorou as instituições, bagunçou a política fiscal e destruiu a capacidade de autonomia das agências regulatórias, mas não acabou com as conquistas da sociedade. “Em uma sociedade que avança, certas conquistas são indestrutíveis”, disse. Como exemplo, ele citou as instituições sólidas: o Congresso Nacional, Ministério Público, Judiciário, Banco Central, Polícia Federal, imprensa, mercados e o agronegócio. Também a democracia é uma conquista, segundo o ex-ministro, bem como a disciplina de mercado.
Na avaliação de Maílson, o país reúne os três elementos de um Estado forte, que o cientista político americano Francis Fukuyama identificou na série de livros sobre a ordem política. Segundo o autor, um Estado é forte institucionalmente se for capaz de manter a ordem, prover educação de qualidade e gerar um ambiente para a prosperidade dos negócios. “O Brasil possui essas condições, que são o voto a cada dois anos, a imprensa livre e a capacidade de mobilização da sociedade. Isso não significa que não haverá crise. Mas essa ordem será preservada ao longo do tempo”, disse.
Sem crise social
Ainda que o cenário econômico piore, Maílson descarta os riscos de crise bancária e de convulsão social. No caso dos bancos, ele lembrou que o setor passou por dois grandes testes, o da Lava-Jato e do banco BTG Pactual. “O sistema financeiro se saiu bem e não houve contágio de nenhum risco”, disse. Já em relação à possibilidade de crise social, o ex-ministro também considera que o risco é zero. Ele disse ter ouvido rumores de que os consumidores emergentes, que migraram para a classe C e agora retornam as classes D e E – cerca de 3 milhões de famílias, segundo estudo da Tendências Consultoria -, poderiam promover uma revolta popular.
“Não acredito, porque o detonador de convulsões sociais é a fome, mas esse risco não existe. O Brasil conta com uma ampla rede de proteção social, a começar pelo Bolsa Família, que evita essa insegurança”, disse. Nas contas de Maílson, são 150 milhões de assistidos pelo governo em programas sociais: 50 milhões do Bolsa Família; 80 milhões da Previdência Social (com 32 milhões de segurados); 10 milhões de funcionários públicos; seguro desemprego, Bolsa Presidiário etc. “Em resumo, a comida não vai sumir do prato do pobre”, afirmou. O máximo que pode ocorrer, a seu ver, é essa parcela da população ir às ruas para protestar. “O PT vendeu a elas uma ilusão, acreditaram que tinham mudado de patamar, mas agora estão caindo”, disse.
Recuperação econômica
Fora o impeachment, o que pode agravar a crise, na visão de Maílson, é a perda, mais uma vez, do grau de investimento, desta vez pela Moodys. Isso poderia acontecer, segundo ele, se houvesse a substituição do ministro da Fazenda ou se o governo não conseguisse cumprir minimamente a meta de superávit primário. Entretanto, por mais manobras que o governo faça, como foi o caso do corte do número de ministérios, ainda dependerá da CPMF para fechar as contas. “Sem o imposto, o governo pode caminhar para uma situação de insolvência”, disse.
Os desafios para o país são muitos, mas Maílson não acredita em um salvador da pátria. Nem mesmo o próximo presidente da República, que ele acredita sairá dos quadros do PSDB, poderá resolver de uma vez todos os estragos que o atual governo fez na economia. Para o ex-ministro, o Brasil está amadurecendo e a tendência é acabar o ciclo PT. O país deverá entrar em uma nova etapa de investimentos em 2019, já sob nova direção, contando com novos talentos. “Toda vez que há uma mudança desse tipo, muda a expectativa, as esperanças renascem e o governo adquire a capacidade de atrair talentos”, disse.
Por fim, concluiu que a economia está em péssimo estado e pode piorar, já que a crise tem natureza política e deverá se agravar. Mas, olhando o Brasil sob a perspectiva do que já foi conquistado, o ex-ministro aponta a solidez das instituições e as oportunidades em 2018 como as condições necessárias para “atravessar esse deserto”. A seu ver, o Brasil pode iniciar um novo ciclo de prosperidade, que tem sua partida na mudança de liderança em 2018.
Fonte: CVG-SP, em 04.12.2015.