Por Márcia Alves
“Se não aumentar a sua produtividade, o Brasil perderá a enorme oportunidade de explorar o seu dividendo demográfico”, alertou Amlan Roy, diretor Administrativo e Chefe de Pesquisa em Demografia e Pensões Globais da Credit Suisse em Londres. Outro aviso partiu de S. Jay Olshansky, professor e pesquisador do Centro de Estudos sobre o Envelhecimento na Universidade de Chicago: “Não dá para fazer a extrapolação linear de um fenômeno que é biológico”, disse. Ele advertiu o setor de seguros e previdência para a necessidade de rever seus modelos de cálculos para calcular a expectativa de vida da população, já que do ponto de vista biológico “o ser humano não viverá mais de cem anos”, como preveem alguns estudos.
A questão, segundo Roy, é que a demografia não pode ser definida apenas pela contagem do número de pessoas ou pela idade da população. “A idade é apenas uma das características de um grande número de variáveis que definem as diferenças em qualquer população heterogênea”, disse. Ele explicou que grupos, como o de jovens, de idosos ou de pessoas de determinadas regiões do país, apresentam padrões diferentes de consumo e de despesas. “É preciso compreender a diversidade global dos consumidores e trabalhadores”, disse. “Não pense que só porque a Índia tem um monte de gente que tem dividendo demográfico", disse. Ele explicou que o dividendo demográfico está intimamente ligado ao capital humano e à educação.
No caso do Brasil, por enquanto, a estrutura etária continua favorável. Entre 2001 e 2013 a População em Idade Ativa (PIA) passou de 65,2% para 68,8%, enquanto a razão de dependência demográfica caiu de 53,3% para 45,2%. A razão de dependência demográfica é calculada pelo peso da população considerada inativa (0 a 14 anos e 65 anos e mais de idade) sobre a população potencialmente ativa (15 a 64 anos de idade). Isso significa que cresceu a população em idade ativa e diminuiu a população em idade considerada dependente, conhecido como bônus demográfico ou dividendo demográfico. Mas, de acordo com Amlan Roy, se o desempenho econômico e institucional do país for negativo, não haverá aproveitamento da janela de oportunidade demográfica. Por isso, avaliou que é importante as empresas darem oportunidade aos jovens, sobretudo em início de carreira, para que o país aumente sua produtividade.
De acordo com Roy, o grupo etário que mais cresce no mundo é o de pessoas com mais de 80 anos, cerca de 381% entre 1970 e 2015, contra 98% das demais faixas etárias da população. Para ele, a dependência dos idosos é um problema global e os governos precisam tomar medidas para amparar esse público. “Muitos países estão envelhecendo antes de ficarem ricos”, observou. A questão é que gastos das pessoas em fase de aposentadoria variam de país e até de região. “Se me aposentar quanto vai custar? Depende do país em que eu morar”, disse. Em sua opinião, os produtos de previdência para aposentadoria, atualmente, oferecem soluções inadequadas porque se baseiam em modelos errados, do passado, que não levaram em conta os aspectos demográficos.
Não mais que cem anos
S. Jay Olshansky tem a mesma opinião de Roy, mas por outros motivos. Ele tem motivos para acreditar que os seres humanos não viverão mais que cem anos. Olshansky estudou o assunto sob o âmbito da biologia e descobriu que o corpo humano não foi feito para durar tanto tempo. “O ser humano é uma máquina supereficiente que, com o tempo, acaba como as demais, no ferro-velho”, disse. Ele apresentou alguns números, apenas para efeito de comparação, do tempo de vida estimada para algumas espécies, medidos em dias: os ratos vivem mil dias; os cachorros, 5 mil; o elefante, 26 mil; os humanos, 29 mil dias; a tartaruga, 55 mil; e a baleia, 77 mil. Fora as exceções de pessoas que viveram mais de cem anos – o recorde é 142, segundo o professor – , “o corpo humano não aguenta”, disse.
De acordo com pesquisador, o envelhecimento é um acidente de percurso, já que a vida é calibrada biologicamente para cumprir a janela reprodutiva da espécie. Tanto que a menopausa nas mulheres marca bem o início dessa fase de envelhecimento, quando começam a surgir as doenças degenerativas. Em sua opinião, as doenças são o preço, ou o dividendo, da longevidade. Segundo o professor, viver muito não é uma tarefa fácil, pois, com a velhice o ser humano perde musculatura e neurônios. “Esses são os nossos pontos fracos e não há muito que possamos fazer contra isso”, disse. Ele ressalva, entretanto, que se descobrirem a cura para doenças, como câncer ou cardiopatias, então será menos penoso viver mais.
Olshansk também questiona os modelos atuariais que estimam o tempo de vida em seguros e previdência. Segundo ele, o erro está em usar modelos concebidos no passado, quando a realidade era outra, o modo de vida e as doenças eram outras. “Não dá para fazer a extrapolação linear de um fenômeno que é biológico”, disse, acrescentando que aquela geração em que foi baseado o modelo atuarial não existe mais. “Se quiserem saber quanto tempo vão viver, olhem para os vivos!”, disse.
Fonte: CVG, em 18.09.2015.