Por Márcia Alves
Muitos analistas previram que 2015 seria um ano difícil para a economia. O que não se esperava, entretanto, é que os prognósticos se confirmassem tão rapidamente. Os efeitos da sucessão de escândalos na Petrobras paralisaram a economia, provocaram a alta do dólar e derrubaram a confiança do empresariado. O Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec), por exemplo, registrou a sétima queda consecutiva em fevereiro. Também em ritmo de descida estão os índices de confiança da indústria, comércio, construção, consumidor e seguros, entre outros.
Apesar de ter superado adversidades e crescido acima da economia em 2014, o setor de seguros dá sinais de desânimo neste início de ano. No mês passado, o ICES – indicador que mede o grau de confiança das seguradoras brasileiras – atingiu o seu mínimo histórico, 27 meses após a sua criação. Em fevereiro de 2015, o índice foi 71,7, o que resultou em uma queda de 11,8% em relação ao mês anterior.
A queda do ICES, indicador calculado pela Rating de Seguros Consultoria a partir de pesquisas com empresários do setor, com o patrocínio da Fenacor, refletiu a piora do clima de pessimismo com os rumos da economia. “O principal motivo para esse comportamento desfavorável continua a ser a preocupação das empresas com o futuro da economia brasileira nos próximos seis meses e com a evolução do faturamento futuro das seguradoras”, diz.
A mais recente edição da Carta de Conjuntura do Setor de Seguros (ed. 11), divulgada em fevereiro pela consultoria Rating, trouxe a análise do primeiro mês do ano, destacando a primeira queda mensal do ICES (5,9%), depois de dois meses de alta. Na avaliação da consultoria, os primeiros indícios de pessimismo do empresariado de seguros foram resultado da descrença generalizada em relação aos efeitos das medidas do governo no curto prazo.
No momento, Galiza revela sua preocupação com a rápida piora da situação econômica nas últimas semanas. Para ele, o grande desafio do setor de seguros será atingir a meta de crescimento nominal projetada em 10%, diante do fraco desempenho da economia. “Se neste ano o mercado conseguir repetir o resultado alcançado em 2014, já está bom demais. Este é o ponto principal. Vamos jogar na defesa”, diz.
Mas, o economista acredita na capacidade do mercado de se manter em crescimento, apesar da crise. O ICES de fevereiro, que mostra a queda de confiança pelo segundo mês consecutivo, também registra, por outro lado, a crença de boa parte dos empresários na manutenção da rentabilidade – 54% responderam que nos próximos seis meses a situação será “igual”. No quesito faturamento das seguradoras, para 76% dos entrevistados será “melhor”, ante 71% do mês anterior, e “igual” para 19%, antes eram 22%.
A expectativa do mercado de seguros está em sintonia com a avaliação de economistas. De acordo com matéria publicada pelo jornal britânico Financial Times, os mais otimistas acreditam que o Brasil pode estar mergulhando numa recessão, mas não corre risco de uma crise econômica, enquanto o ministro Fazenda conseguir colocar em prática as medidas ortodoxas para recolocar as finanças brasileiras em ordem.
Para Galiza, tudo depende de ponto de vista. Ele recorre ao exemplo do copo meio cheio ou meio vazio para explicar as duas maneiras de se enxergar a economia: otimista e pessimista. “Se olharmos para a realidade dos últimos três ou quatro anos, o copo é meio vazio, porque o mercado de seguros crescia a uma taxa média de 15% a 20%. Mas, se enxergamos a realidade de outros segmentos da economia, como a indústria, por exemplo, o copo é meio cheio. Depende do que se compara”, diz.
O ramo de pessoas em destaque
Um dado relevante para o ramo de seguro de pessoas é o crescimento do VGBL, independentemente da situação econômica do país. A Carta de Conjuntura da Rating detectou um aumento de 13% no faturamento da previdência, ante 9% dos demais seguros (sem VGBL). O volume de receitas do “VGBL + Previdência” saltou de R$ 73,5 bilhões em 2013 para R$ 83,3 bilhões em 2014. “Ao longo de 2014, um aspecto positivo a destacar foi a recuperação excepcional do segmento de VGBL + Previdência, que abriu o ano com um faturamento bem modesto”, destacou a Carta de Conjuntura.
A explicação para o crescimento do VGBL partiu de uma das maiores autoridades no assunto, o presidente da Federação Nacional de Previdência e Vida (FenaPrevi), Osvaldo Nascimento. Segundo ele, o crescimento ocorreu muito mais em função da redução de resgates do que de maior captação. “O trabalho de educação financeira fez cair significativamente o volume de resgates”, justificou, durante sua participação em almoço do CVG-SP, no início de março.
O economista Galiza ressalta que diante do cenário atual, é importante considerar que o segmento de seguros e previdência não é uma “ilha” do resto da economia e da sociedade brasileira. “Ou seja, precisa haver regras estáveis para o seu desenvolvimento, crescimento econômico do país, mercado de capitais eficiente, melhor distribuição de renda, interesse do Estado em seu desenvolvimento, entre outros”, registrou ele no estudo “Seguro de Vida Individual no Brasil: o que precisa ser feito para o seu desenvolvimento?”, divulgado no último ano.
O estudo, que envolveu pesquisa teórica e entrevistas com agentes do setor, concluiu que um conjunto bem articulado de medidas pode desenvolver o seguro de vida individual e dotá-lo de um considerável potencial de crescimento. Para estimular o segmento, o estudo recomendou seis medidas estratégicas: desenvolvimento de novos produtos; estímulo à cultura de consumo do produto na população; adoção de canais de vendas mais agressivos; redução da prioridade de venda do seguro de vida em grupo; criação de mecanismos para o ganho de escala do ramo; expansão da distribuição do produto no país. “O potencial de crescimento é elevado. E, cumpridos esses pré-requisitos básicos, tudo leva a crer que esse produto será muito maior nos próximos anos”, concluiu.
Fonte: CVG-SP, em 13.03.2015.