Mary Durham, Vice-presidente da Kaiser Permanente, esteve no Rio de Janeiro a convite da ASAP, no final do mês de junho, para o evento “Em busca da sustentabilidade econômica da saúde suplementar”, no qual apresentou o modelo de gestão de saúde proposto pela Kaiser, como também seus resultados, que envolvem um sistema pré-pagamento, medicina integrada, abordagem de dados e cuidados baseados na população e o uso cada vez maior de tecnologia da informação.
Nesta entrevista, Mary apresenta o funcionamento do modelo da Kaiser Permanente, fala dos obstáculos que recaem sobre a implantação do modelo de integração, e comenta também como a metodologia Kaiser pode contribuir com a gestão de saúde populacional no Brasil.
ASAP – A senhora poderia explicar como funciona o modelo Kaiser Permanente, como poderia ser implementado e fazer a diferença na gestão de saúde?
Mary Durham – Kaiser Permanente (KP) é um consórcio de gestão integrada de cuidados que proporciona cobertura pré-paga de seguro saúde e assistência médica, hospitalar e serviços de farmácia para mais de 10,6 milhões de membros em oito estados dos Estados Unidos. A KP é a maior administradora de saúde dos Estados Unidos e seu modelo consiste em contratar exclusivamente grupos médicos permanentes, que empregam mais de 18.500 médicos. A KP mantém o maior sistema eletrônico privado de dados médicos do mundo, que capta todos os aspectos de cuidados de saúde de um membro. Isso inclui estatísticas vitais, internações, visitas ER, gastos com farmácia, cuidados de saúde mental, imagens e resultados laboratoriais. O modelo KP e seu sucesso na prestação de cuidados de saúde contam com pré-pagamento, medicina integrada, cuidados baseados na população e tecnologia da informação avançada. Esta combinação de elementos resulta na mais alta qualidade de atendimento em comparação com as médias nacionais em todos os nossos mercados.

ASAP – Qual é a maior barreira para implementar um modelo de integração e coordenação?
Mary Durham – O maior desafio é a mudança constante na área da saúde: a tecnologia, a medicina, a regulamentação do setor, as necessidades e expectativas dos clientes. Desde que todas as partes do sistema estejam interligadas, mudanças em uma parte exigem mudanças em todas as outras partes.
ASAP – Como a Kaiser Permanente mensura os resultados e qual é o indicador mais importante?
Mary Durham – Algumas métricas de avaliação de qualidade e desempenho do serviço são exigidas por reguladores e pagadores. Outras são baseadas no nosso conhecimento de pesquisa e prática, o que resulta no alcance da mais alta qualidade e serviço. Cada medida é cuidadosamente construída para maior clareza de definição e provável impacto. Eu não diria qual é o indicador mais importante, eles trabalham juntos para criar alta qualidade e experiência acessível.
ASAP – A Kaiser Permanente poderia ajudar o setor brasileiro da saúde na integração de dados?
Mary Durham – A KP tem sido um parceiro fundamental em vários projetos de integração de dados bem-sucedidas, como o PCORI, Sentinel, HMORN/HCSRN. Qualquer um desses modelos poderia servir como um modelo para a integração de diferentes recursos de dados através de diversos sistemas (os modelos de dados são altamente adaptáveis). A estrutura e modelo de dados comum para PORTAL podem ser encontradas em http://www.pcornet.org. O modelo de dados para Sentinel pode ser encontrada em https://popmednet.atlassian.ne, e o modelo de dados para o HMORN / HCSRN está localizado na www.hcsrn.org

ASAP – Como a senhora vê o modelo de gestão de saúde do Brasil e como foi sua experiência no evento da ASAP?
Mary Durham – Fiquei extremamente impressionada com o entusiasmo e a sofisticação dos líderes que estiveram no evento da ASAP. Embora existam muitas barreiras a serem superadas para alcançar um modelo verdadeiramente integrado, em modelo de cuidados baseado na população no Brasil, tive a sensação de que este grupo de profissionais pode identificar as barreiras e aplicar elementos relevantes, integração de cuidados baseados na população que poderia ser semelhante ao da Kaiser Permanente. Por exemplo, usando modelos de dados acima identificados, seria tecnicamente possível ligar sistemas de registros médicos eletrônicos; dados de saúde da população poderiam estar próximos com o uso do eletrônico/relatórios/telefone e outras modalidades. Seus líderes estão conscientes de que o uso de pré-pagamento exigiria uma mudança de cultura.
Fonte: ASAP, em 11.07.2016.