Por Antonio Penteado Mendonça
O carnaval ficou para trás. Agora é hora do jogo começar para valer
O carnaval ficou para trás. Agora é hora do jogo começar para valer. Ao contrário de vários outros anos, este já começa mais acelerado, com promessa de manifestação popular, com o governo acuado, com o congresso dando as cartas e a Operação Lava Jato prometendo mais alguns capítulos emocionantes.
Com a quase certeza dos racionamentos de água e energia elétrica implantados nos próximos meses, os outros problemas ficam pequenos. Sem água e energia não tem o que fazer. O mais dramático é que a região mais afetada é o sudeste, que, além de ser a área mais populosa do país, é também o carro chefe da economia.
Ainda é cedo para dimensionar os impactos das duas medidas, mas a nação vai sentir, com consequências em todas as áreas, principalmente na social. Não tem como ser diferente. E o mais cruel, e que tem sido pouco comentado, é que, além dos impactos diretos sobre a vida das pessoas, como falta de luz e falta d'água algumas horas por dia, ou mesmo alguns dias por semana, há os impactos indiretos, como redução da atividade econômica, perda de emprego, redução de salários e benefícios e queda na renda da população.
Como a economia vai mal, impulsionada pelos desmandos praticados contra ela nos últimos quatro anos, o quadro acima se agrava brutalmente, afetando todas as áreas atingidas pela falta de chuvas e as outras que, apenas por sorte, estavam conseguindo escapar dos danos causados pela estiagem.
2014 foi um ano ruim. Os principais indicadores mostram que o país não cresceu, mas a inflação cresceu, os juros subiram, o dólar subiu e, para tentar colocar ordem na casa, as medidas recém adotadas pelo Governo também elevaram a carga tributária.
O duro é que este sacrifício não gerará melhora nos indicadores sociais, com saúde pública e educação prestando serviços muito abaixo do mínimo decentemente esperado pelo brasileiro. Ao contrário, os serviços públicos de saúde devem continuar se deteriorando e não há um único indicador apontando que com a educação será diferente.
Por que este quadro ruim tem que estar no início do artigo? Porque estamos no começo do ano real brasileiro e, desde já, é bom se ter claro que não tem como ele ser bom. Na melhor das hipóteses, será um ano menos ruim do que poderia ser, mas as chances são contra. Por isso, é bom estar preparado para pagar um extra pela conta.
A indústria vem sentindo a pancada desde o começo de 2014. Até os amigos do rei, como a indústria automobilística, começam a fazer água e a pensar em rigorosos programas de contenção de despesas e dispensa de pessoal.
O comércio sabe que a febre do consumo ficou para trás. E várias atividades de serviços já estão com importantes players fechando as portas ou dispensando funcionários.
Não tem como o setor de seguros não ser afetado. A queda do crescimento nacional impacta seus resultados. Afinal, seguro é atividade de apoio. Se não há atividade econômica pujante, não há como manter o crescimento do setor.
Há quem diga que, como em 2014 o setor cresceu em patamares bem acima da economia nacional, fechando a última linha no azul, tem como 2015 ser um ano também positivo, puxado pelo expressivo crescimento das últimas duas décadas.
Reforçando essa ideia temos o fato insofismável de que menos de 20% das residências são seguradas, que dificilmente 30% das empresas têm os seguros que necessitam, que menos de 25% da frota de veículos tem algum tipo de proteção e que os patamares dos seguros de pessoas estão muito abaixo do que se vê nos países desenvolvidos.
É tudo verdade. E pode servir como ponto de partida para quem vê nas crises oportunidades de crescimento. Mas estes são as exceções. 2014 tem números consolidados bons porque algumas grandes seguradoras estão puxando o setor. Os balanços que começam a ser publicados mostrarão que nem todos ganharam tanto dinheiro assim.
Como quando onça sai pra beber água, tatu fica na toca, a hora é de cautela. O ano não precisa ser necessariamente ruim, pode até ser muito bom. Só será difícil ou, em outras palavras, é a hora dos profissionais.
Fonte: SindSegSP, em 20.02.2015.