Entrevista com Aquiles Mosca - Superintendente Executivo Comercial da Santander Asset Management
Diário dos Fundos de Pensão: Em linhas gerais como evoluiu tecnicamente a indústria de fundos e o mercado de gestão nos últimos anos ? E o que ainda falta fazer de principal ?
Aquiles Mosca - Do ponto de vista da evolução dessa indústria o crescimento veio acelerado entre 2009 e 2012, na base de 17% ao ano. Depois disso desacelerou e esse esfriamento se estende até hoje. Os 10% ao ano que temos agora na verdade não é bem um crescimento, considerando que nessa fase de juros elevados equivale à remuneração do estoque. A captação de dinheiro novo já foi, em 2013, a metade do que havia sido em 2012. E a partir daí nem isso, uma frustração explicada pela situação econômica do País e tudo que acompanha. Mas a economia não explica tudo: os fundos de investimento viram surgir e se consolidar uma concorrente forte, as aplicações isentas de tributação, como as LCs. E isso levou embora o dinamismo que havia na indústria de fundos.
Os fundos de pensão também se encontram numa situação similar, que poderia ser definida como de estagnação. Mas, não a indústria da previdência complementar como um todo, porque se de um lado tornou-se raro ver a abertura de um novo fundo de pensão, de outro a sua vertente aberta vem crescendo. De toda forma, estamos falando de algo ao redor de 2% da população brasileira.
Quanto às relações entre uma indústria e outra, o fato é que ao concentrar cada vez mais os seus investimentos em fundos de renda fixa, em função dos juros elevados que temos hoje, saindo de carteiras multimercados, de ações e de negócios estruturados, os fundos de pensão abrem mão dos serviços que a indústria de fundos oferece e que podem agregar valor. Em resumo, os fundos de pensão acabam demandando serviços mais simples.
Diário - E, do ponto de vista do mercado, em que os fundos de pensão (clientes) precisam evoluir ?
Aquiles - Os fundos de pensão precisam demandar à indústria de fundos de investimento serviços de maior complexidade, mas é verdade também que a economia brasileira precisa criar as condições mínimas para isso.
Diário - O montante de recursos investidos pelos fundos de pensão no exterior vêm crescendo bastante lentamente. A seu ver isso é o melhor a ser feito ou existe algo atrapalhando ?
Aquiles - Os investimentos no exterior são algo de muito positivo mas que ainda não se materializou de fato, considerando os pequenos valores investidos. Os fundos de pensão, mesmo os maiores, continuam dando pequenos passos, que mais se parecem a testes. Daí que os ganhos que poderiam ter tido no último ano nem impacto tiveram nos resultados gerais, de vez que o colocado lá fora ainda é muito pouco. É verdade que a legislação não ajuda aos fundos de pensão. É antiquada, por não ser possível investir diretamente em um fundo lá fora e por se estar sujeito a um teto que obriga a uma entidade a encontrar três outras com estratégia idêntica, o que não é fácil.
A Abrapp e a Anbima estão tentando mudar isso ao apresentarem propostas que, apesar da boa vontade da Previc, ainda não caminharam na direção de uma solução. Enfim, o nó ainda não foi desatado e, em função disso, os fundos de pensão continuam privados de uma opção que lhe ofereceria maior diversificação e menor risco, disso resultando maior eficiência. Mas os gestores estão querendo saber cada vez mais. Isso se pode perceber pelas salas lotadas cada vez que se traz um especialista do exterior para um evento no Brasil.
Diário - Investir de forma sustentável é com certeza um imperativo para investidores de longo prazo como os fundos de pensão. O que a indústria de fundos e o mercado de gestão pode fazer a mais para tornar essa tarefa mais fácil ?
Aquiles - Repete-se um pouco o que acontece com os investimentos no exterior. A consciência existe de forma crescente, mas ações concretas são poucas. Muita gente é signatária de documentos, mas isso demora a se transferir para as atitudes do dia a dia. É uma pena, porque isso priva as carteiras de uma opção importante. Temos um fundo voltado para a sustentabilidade que há mais de uma década se comporta em média sempre melhor do que o Ibovespa.
Fonte: Diário dos Fundos de Pensão, em 30.10.2015.